terça-feira, 3 de outubro de 2017

Grand Prix of Nations - Riga Latvia (Letônia) 2017




Título do Evento: Grand Prix of Nations 
Entidade Organizadora:  INTERKULTUR- Alemanha


Ano: 2017

Componentes:
Sopranos: Elisa Bernardes, Giana Araujo, Letícia Gonçalves, Lina Santoro, Lívia Natividade
Contraltos: Ana Luisa Gouvêa, Erica Vilaça, Flávia Rodrigues, Márcia Godinho, Nina Fras
Tenores: Amilcar de Castro, Guilherme Campos, Gustavo Campos, Mário Sampaio, Vitor Brum



Baixos: Duda Guterres, Luioz Carlos Peçanha, Ricardo Fraga, Roberto Fabri




Um ano já tinha se passado do concurso de Calella. Voltamos de Barcelona com muitos compromissos de concertos e eventos. Um ano de grandes comemorações, mas em meados de 2015 nos reunimos para traçarmos as próximas metas de concursos internacionais. Barcelona já fazia parte do passado. 

Os prêmios, a primeira colocação e a pontuação obtidas no “Canta El Mar” possibilitou nossa entrada, por 5 anos, em qualquer evento competitivo promovido pela Interkultur, a forte organização internacional de eventos corais.

Lina e Caco com um bebê a caminho, decidimos que eles ditariam o ritmo da viagem: quando e onde nós iríamos. O sinal deles foi para 2017. Numa viagem com bebê tinha de ser no verão, é claro.  Nos debruçamos nas diversas possibilidades e todos ficamos seduzidos pela possibilidade de irmos ao Grand Prix das Nações, que em 2017 seria realizado  em Riga, na Letônia. De cara, três desafios. O primeiro era que o verão encarecia por demais as passagens e hospedagens. O segundo era o nível altíssimo que encontraríamos lá, exigindo do Boca uma preparação e uma complexa escolha de repertório que não nos colocasse em desigualdade vergonhosa frente aos grandes coros, que fatalmente encontraríamos, e aos principais jurados mundiais. 
Terceiro, era a possibilidade única de cantarmos em Riga num concurso realizado na cidade referência do canto coral mundial, onde as crianças, muitas vezes, aprendem nas escolas maternais a solfejar, antes mesmos de serem alfabetizadas.  Pesamos na balança os prós e os contras e decidimos encarar mais uma aventura “Bocaleone”. Sem dúvida um passo muito largo na nossa longa caminhada.
Ao retornarmos de Barcelona enfrentamos quatro perdas muito severas no nosso núcleo fundamental de cantores que foram fazer doutorado fora do Brasil. Lucci foi para os Estados Unidos, Flávia para a Inglaterra, Jero foi para Nova Zelândia e, no fim, Elisa foi para a França. Podemos dizer que a perda foi de cinco, pois a Kel, uma boquiana “não cantora”, também foi para Londres.
 Perdas complexas e insubstituíveis, principalmente para um evento daquela envergadura. Mas por tudo aquilo que foi construído por eles e por nós, decidimos seguir em frente com nossos projetos musicais. Felinianamente falando, “E la nave va” ...

Escolhemos um novo repertório, aproveitamos algumas peças já preparadas, adequamos tudo às exigências do concurso e arregaçamos as mangas para o preparo do repertório e para a arrecadação de fundos destinados à compra de passagens e hospedagens. Aí todo o filme retrocedeu: feijoadas, concertos pagos, saraus, poupanças ... toda aquela mágica para se capitalizar em um país completamente alheio às questões da arte e da cultura.

 O Brasil quebrado financeiramente, políticos corruptos fechando os cofres aos patrocínios culturais, empresas demitindo ... dessa vez a barra foi pesada!! Amilcar assumiu novamente a complexa e difícil função de coordenar os contatos com os organizadores. Com a competência de sempre assumiu a enxurrada de e-mails com a organização do Grand Prix of Nations.
A outra questão era repormos com novos cantores a imensa lacuna deixada por nossos companheiros de tantas aventuras. Se na questão humana a lacuna era permanente, na questão musical o complexo repertório exigia outras vozes.  
Entrar para o Boca Que Usa é sempre uma questão complicada. Não só pela responsabilidade musical, mas, principalmente, pelos aspectos humanos e pela dinâmica peculiar do grupo.
 O Boca é uma família complexa e os laços afetivos guiam boa parte das nossas escolhas e dos nossos sonhos. Às vezes discutimos um compasso ou uma linha melódica por um longo tempo. 
As interpretações são sempre temas que caberiam em tratados filosóficos ou antropológicos! Mas é assim que funcionamos e que resolvemos (e sempre resolvemos) nossas questões musicais.
 Não é qualquer um que consegue trabalhar assim. A maioria dos músicos prefere uma direção organizada, com tudo mastigado, trazida por um regente tradicional. 
Aqui seguimos a lógica do caos. Estamos mais perto do conceito físico de Entropia, do que do conceito de ordem e racionalidade. Mas o acaso também dá as ordens no Boca e começamos a repor as peças.
O primeiro a entrar foi Jorge Miguel, exímio pianista, excelente músico, com quem convivíamos todos os anos nos encontros de coros de Cabo Frio. 
No encontro de 2015, entre papos e cervejas, fizemos a ele o convite para reforçar nosso bravo naipe de tenores, que recentemente tinha perdido Lucci, e ele topou! Entrou como se já cantasse no Boca desde os primórdios do grupo. Encaixe perfeito na filosofia “Boquiana”.

Depois entraram juntos Vítor e Pedro. Fizemos um concerto no salão Leopoldo Miguez, Na Escola de Música da UFRJ. Os dois estavam na plateia. Eram alunos de música da UFRJ e cantavam com o Duda no coral da Universidade. Gostaram do trabalho, foram assistir ao nosso ensaio e saíram de lá com partitura na mão e já integrados aos naipes. Vitor reforçou a tenorada e Pedro substituiu Jero no naipe de baixos. Grandes aquisições! Eles entenderam rapidamente o espírito do grupo.  Já em 2016, entrou Luizinho.  
Experiente regente dos coros do Centro Educacional de Niterói, entrou reforçando o naipe dos baixos. Estávamos quase prontos para nossa performance em Riga. Entretanto faltavam ainda um contralto e um soprano. Conversamos com Flávia e com Elisa, que já estavam na Europa, e passamos a ensaiar com elas via Skype!! 
Fato inédito na preparação do Boca. Se não era a formação ideal, ao menos conseguíamos estar juntos virtualmente! “Santa tecnologia Batman!!!” diria o “menino prodígio”. Fato completamente impossível num coro tradicional, mas no Boca Que Usa não!!

Os ensaios funcionaram bem, e quando nos reunimos na Europa, vimos que tudo aquilo valeu muito a pena! Pelo tempo de canto junto e pela nossa afinidade humana e musical, quando Flávia, Elisa e Raquel se juntaram ao grupo, parecia que elas nunca tinham se ausentado.
Nos preparativos no Brasil, o que estava pegando era a questão da grana. O país na maior crise, os poucos voos para a Europa estavam caríssimos, países bálticos bombando de turismo no verão de 2017 ... perigava alguém ficar de fora. Fomos bater nas portas dos poderes públicos tentando alguma ajuda com concertos ou patrocínio e nada ... Tive uma frustrada reunião com um, agora ex-secretário da prefeitura de Niterói, que foi lastimável. 
Sequer viu nosso projeto ou ouviu minhas argumentações sobre a importância de um grupo de Niterói (o único participante de toda a Latinoamérica) nesse evento. Chorou tanta miséria que pensei em dividir um pouco da nossa magra caixinha para ajudar a secretaria dele. Mas depois, mais próximo à viagem, algumas pessoas da Prefeitura se sensibilizaram e nos ofereceram espaços para concertos futuros.

 Em meio ao caos, a Giana teve a brilhante ideia de organizar uma “Vakinha” on line e aí foi a nossa grande surpresa. Uma grande mobilização de amigos, familiares, antigos companheiros de coro, amantes da música coral, etc. começaram a contribuir e, num movimento emocionante, conseguimos levantar uma grana e levar o coro inteiro para Riga. 
Aos nossos amigos “patrocinadores” criamos um vínculo de gratidão e de afeto que a todo momento nos emociona. Doações de R$ 10, 100, 500 ... coisa impressionante de se vivenciar. Levamos para o concurso muitos corações junto aos nossos e isso mudou nossa forma de conduzir o nosso trabalho a partir daí. A todo o momento lembrávamos dessa responsabilidade lá.




 Embarcamos todos naquela louca aventura “Bocaleone”. Além dos cantores, faziam parte do “Boca não cantante” Dona Heloisa, Mariana, Cândido e Marcelo. 
Peças fundamentais em toda a nossa aventura. Também, é claro, tinha as crianças, representantes do “Boca Júnior”sem as quais a viagem não seria tão família: Ítalo e Gregório. Caco e Lina, num ato de heroísmo, carrinho de bebê a punho e sem babás, levaram os dois sem pestanejar. Ítalo, já um veterano de concursos internacionais, trazia em sua bagagem duas medalhas de ouro, ganhas em Calella. Greg iniciava sua longa saga, em território báltico. Juntaram-se ao grupo, em Riga, Raquel, Flávia e Elisa, num reencontro emocionante! Jero e Lucci não conseguiram vir, por questões profissionais. Pronto, estávamos finalmente completos e respirando o mesmo ar. Todos em Riga, representando o coro que viajou a maior distância para fazer parte do concurso.
A adaptação foi estranha. Seis horas de fuso horário, e um dia de 20 horas de sol e claridade e 4 horas apenas de noite. Mas todo mundo animadíssimo. 

A cidade de Riga respirava canto coral e seu centro histórico estava ocupado por mais de 10 mil coristas e por quase duas centenas de coros do mundo inteiro. A agenda era apertada e com muitas atividades diárias. Logo na primeira manhã tínhamos um concerto compartilhado com outros coros em um pequeno auditório mantado próximo à base de organização da Interkultur. 


Lá já sentimos a magnitude do evento, com dezenas de coros transitando pelo belo parque, onde se ouvia dezenas de idiomas e de sotaques, a maioria desconhecida de nós. Cantamos um repertório mais POP, com algumas músicas brasileiras que fizeram grande sucesso com o público ouvinte. 

Fomos filmados, demos entrevistas à televisão local e cantamos uma música em Leto ensinada na hora para o grupo pela repórter da TV.  
Ficamos em um hotel distante do centro, por óbvias questões de custo, mas bem confortável. Com o crachá nós tínhamos acesso gratuitamente a todos os serviços de transporte público, fato que facilitou bem a vida por lá.

Fizemos alguns ensaios para juntar as vozes “ao vivo” com Flávia e Elisa e procuramos descansar bem o corpo e as vozes em um clima bem seco e após mais de 15 horas respirando o péssimo ar nos aviões. 
Nesse dia passamos o som na Catedral de San Pedro, local da competição sacra. Foi uma experiência emocionante cantar novamente em uma catedral gótica.


 Construída no século XIII, com uma arquitetura bem diferente do gótico tradicional da Europa ocidental, a igreja possuía uma acústica perfeita para as peças sacras. Ficamos muito impressionados com a beleza do templo e com sua sonoridade para a música vocal. 

Nesse dia teríamos o desfile das delegações nas ruas do centro histórico de Riga. Aí, para a nossa surpresa, encontramos assistindo o evento a nossa querida e respeitável maestrina de coros juvenis, Patrícia Costa, regente do consagrado coro “São Vicente à capela”, aqui do Rio. A presença da Patrícia nos encheu de alegria e confiança naquelas terras distantes.
 Encontrar a Patrícia em Riga, em meio àquela Babel toda, foi realmente uma alegria. Ficamos juntos durante todo o concurso e sua presença lá era uma espécie de “porto seguro”, um “amuleto” ou melhor um “muiraquitã” de boa sorte a todos nós. Mesmo com tanta experiência em viagens internacionais para concursos corais, aquilo era algo muito maior que tudo o que tínhamos participado até então. Algo belo, mas assustador pela imponência e pelo tamanho do evento.
Participamos de um emocionante desfile nas ruas históricas da cidade velha de Riga em meio a muitos aplausos. Desfilamos logo atrás de um coro da Áustria, com uma coreografia profissional. 
Gente com passos marcados, movimentos de bandeiras e tudo o mais. Num espírito bem brasileiro Duda improvisou uma coreografia em passos de Axé e rodadinhas que fizeram o maior sucesso e a galera se divertiu muito dançando os “passitos dudianos”!! Vitor segurando a placa do Brasil, Márcia, Ana e Pedro com bandeiras ... a galera com cachecol verde e amarelo. 
Ao termino do desfile, todos os coros se aglomeravam na praça em frente ao Monumento pela liberdade, praça histórica e local de importantes concentrações culturais de Riga, onde ouvimos concertos, discursos e uma linda canção entoada espontaneamente pelos milhares de participantes da cidade que assistiam ao evento e que produziram um coro afinadíssimo e emocionante. Emocionante também foi a homenagem, feita pelos organizadores, ao coro Boca Que Usa, do Brasil, como o grupo que veio do local mais distante para participar do evento. Foi igualmente lindo recebermos flores de uma senhora, anônima, que gentilmente distribuiu tulipas às meninas do Boca.
No terceiro dia tínhamos um compromisso em Rezekne, uma cidade localizada próxima à fronteira da Rússia, cerca de 4 horas de viajem de Riga. Aceitamos o convite ainda no Brasil, empolgadíssimos com a oportunidade de cantarmos em Gors, um impressionante complexo teatral e um dos mais importantes teatros da região báltica. O centro cultural recebe os principais eventos musicais do calendário letoniano. Quando aceitamos o compromisso, por inexperiência, não sabíamos ao certo qual seria a data da apresentação. 
A organização nos programou para a véspera das nossas competições, fato que prejudicou bastante nossa concentração e nosso desempenho vocal no concurso. A estrada que liga Riga a Rezekne estava em obras e levamos um tempo enorme de quase seis horas para retornarmos a Riga. Chegamos de madrugada ao hotel e descansamos pouco na véspera do concurso. Isso foi fatal. Mas foi muito prazeroso ter viajado pelo interior da Letônia e ter cantado em Gors.








Apresentamos no teatro com o coro infanto-juvenil da Suíça, que havia acabado de ganhar uma medalha de ouro na categoria “coro jovem”, e estavam comemorando seu prêmio nesse concerto. Já tinham encerrado sua fase competitiva. O teatro (grande) estava completamente lotado pela população local e nossa apresentação foi muito impactante positivamente, tanto aos coristas da Suíça quanto aos ouvintes locais.
 
Quando cantamos Milestiba, uma composição em leto, que fala do amor, podíamos ver muitas pessoas na plateia chorando. Isso não tem preço! Fomos muito elogiados, Lina deu entrevista à TV local, e retornamos numa infindável viagem até Riga. Ficam as boas lembranças e as intermináveis lições.

No dia seguinte, bem cedo, já estávamos a postos para passar o som no teatro da Universidade de Riga, onde ocorreria o primeiro concurso: música erudita para coro de vozes mistas. 

Passamos o som em um teatro que possuía um átrio, iluminado por uma grande claraboia, com colunas laterais e espaço para uma grande plateia. Pra variar, uma excelente acústica. Passamos o som em exatos 15 minutos, nem um segundo a mais era permitido. Saímos do teatro e ficamos nas cercanias aguardando a nossa hora de botar para fora tudo o que preparamos ao longo dos ensaios. Não foi possível assistir os coros que nos antecederam. O teatro não cabia nem uma mosca. Mas creio que isso foi bom. Aguardamos por cerca de 30 minutos numa antiga sala da universidade, estilo art déco, onde, relaxamos, concentramos, nos abraçamos, e conversamos muito. Vinha à nossa mente os amigos que nos ajudaram na vakinha. Levávamos conosco a confiança de tanta gente amiga. 

Também falamos dos nossos antigos mestres de canto coral. Elza Lakschevitz, Ermano Sá, Antonio Vaz, Carlos Alberto, Samuel Kerr, Oscar Escalada, Ruy Capdeville ... tanta gente que de algum modo havia contribuído para estarmos ali, no meio daquelas feras todas, como único representante da América Latina.
 E, com aquele sentimento de pertencimento a algo muito maior, e muito felizes por estarmos num evento daquela magnitude, entramos finalmente no palco.
Nove atentos jurados nos olhando impassíveis. Alguns já nos conheciam em concursos passados. Tinham feições mais amigáveis. Outros totalmente insensíveis. Entramos com serenidade e confiança. 
Encaramos os jurados e a plateia e encontramos, logo na frente, nos olhando com a mais bonita das expressões faciais, a Patrícia Costa! Ufa! Alivio!! Um rosto conhecido e amigo na plateia. No familiar sorriso da Patrícia, nos dando a maior força, nos apegamos e fomos fazendo peça a peça. Monteverdi, um pouco tenso. Milestiba abriu um portal e um canal de comunicação com a plateia e com o jurado da Latvia. Tinha muita gente chorando de emoção na plateia ao ouvir essa peça. Ficamos mais confiantes. Water night foi um pouco aquém do que acostumávamos apresentar, mas foi bem. 

Irerê foi muito abaixo do que estávamos acostumados. Música longa, coro duplo, exige sempre muita energia, aí, os muitos quilômetros da véspera pesaram um pouco. Ofulú foi uma música arrebatadora! Deu uma pancada na plateia e nos jurados e foi a nossa maior pontuação nessa primeira competição do Grand Prix. A música brasileira tinha cumprido a sua parte!
Saímos do concerto com uma sensação de que fomos bem, mesmo não atingindo nosso melhor. Isso ficou claro. Mas não era hora de pensar no que passou. Tratamos, da melhor forma possível, de reorganizar nossas forças e nossa concentração, pois no final da tarde tínhamos outra pedreira ainda maior. O concurso sacro. Chegamos à Catedral uma hora antes e tratamos de nos concentrar da melhor forma possível. 

Sentíamos nitidamente o cansaço da longa viagem a Rezekne, o frio vespertino e as condições do ar. Mesmo no verão, quando o sol baixava o frio era intenso para um coro carioca acostumado às altas temperaturas do Rio de Janeiro. Relaxamos, fizemos exercícios respiratórios e nos concentramos. Ao entrarmos na catedral, o forte cheiro de incenso e a secura do ar imposta pelos aquecedores ressecou muito nossas gargantas. Isso foi bem difícil. As vozes falhavam, quebravam e não obedeciam ao nosso comando. Mas mesmo assim mantivemos a concentração. Bogoroditse dievo foi uma peça de adaptação. Fizemos bem abaixo do que estávamos acostumados. Recuperamos um pouco o controle vocal em Crucifixus e nos estabilizamos em Ave Verum, uma ótima
interpretação, com uma boa pontuação. Deus qui illuminas, igualmente, teve boa performance. Encerramos com “o Magnum Misterium”, que obteve uma excelente nota. Nossa maior nota no evento. Depois vimos que ficamos muito próximo do ouro ...

Uma vez mais os “bocas não cantantes” nos deram aquela força antes, durante e depois das apresentações. Cândido e Marcelo fotografando tudo, Mariana e Raquel sempre presentes e dando ajuda com as crianças e nos apoiando.  Helô também presente com sua torcida.

Patrícia sempre conosco, dando muita coragem e energia para o grupo. Já entramos na catedral procurando o seu rosto amigo. No final profetizou que ganharíamos medalhas.  Ficamos descrentes. Saímos da catedral com a sensação que poderíamos ter ido bem melhor, apesar de termos feito uma ótima apresentação.  Essas exigências sempre foram uma marca do Boca. Mas no fundo estávamos felizes pelo dever comprido. Não tínhamos feito feio não. Estávamos no nível da maioria dos coros. E isso é muito para uma ilha coral chamada Brasil. Não podíamos esquecer isso e Patrícia Costa, uma vez mais, nos puxou para a realidade lembrando de onde vínhamos e onde estávamos. Falou da importância de estarmos ali, naquele mega evento, participando e, o principal, aprendendo e representando o Brasil e a Latinoamérica.
Descemos a um Pub medieval, nos subterrâneos da cidade histórica, levados pela nossa eficaz e competente guia, a Liva. E agora, sem quaisquer compromissos, à medida que tomávamos umas cervejas a adrenalina ia baixando começávamos a nos dar conta do tamanho e do peso dessa aventura.
Estávamos muito felizes e nos permitimos finalmente relaxar e festejar muito. Na sala do pub que estávamos tinha tinha umas arcadas medievais e no fundo um piano, que passou de mão em mão. Terminamos a madrugada tocando e cantando música brasileira para uma plateia de várias partes do mundo, mais que empolgada com as músicas de Jobim, Milton, Nazaré, Zequinha de Abreu, Dorival Caymmi ... Saímos de lá com o corpo e a alma lavada!! Fizemos a festa!
No dia seguinte, no meio da tarde, seria a cerimônia de encerramento. O evento foi realizado na Arena de Riga, um imenso ginásio poliesportivo com capacidade para milhares de pessoas. Ali foi possível dimensionar o tamanho do evento. Uma festa de proporções olímpicas, hollywoodianas, com direito a pirotecnia, telões, efeitos especiais, canto coletivo, orquestra e um coro de mil vozes. Nos concertos de encerramento, assistimos peças compostas e regidas pelos principais nomes mundiais da música coral, como John Rutter. Muitas foram compostas especialmente para o evento. Teve também um belo desfile feito por atores com roupas típicas e aludindo costumes dos países participantes. Foi emocionante ver o Brasil representado lá, em meio às principais nações do mundo. Num momento de profunda baixa da autoestima nacional, estávamos lá, nos orgulhando de nossa origem e sonhando com um Brasil melhor. Sem dúvidas fizemos a nossa parte.

Na entrega de prêmios eu e Lina, na condição transitória de diretores do Boca naquele evento, ficamos isolados da galera, aguardando angustiados se seríamos premiados ou não. Primeiro foi a categoria de música erudita para coro misto. 



Quando chamaram o nome do Boca, com a prata, foi uma alegria geral! Ficamos contidos formalmente no palco, mas no fundo tínhamos a plena alegria do dever cumprido.

Em seguida a música sacra, categoria mais disputada e aberta a todos os coros. Mais uma vez a prata!! Emoção incontida! Passava na mente, novamente, um filme de nossa longa trajetória. Depois foi correr para o abraço com a família BQU!! Fomos sentindo aquela energia boa após tanto tempo de trabalho e dedicação. Nossos velhos mestres, onde quer que estejam, e nossos amigos de sempre certamente não se decepcionaram. Estávamos muito contentes com esse aprendizado único, em um evento de proporções gigantes no mundo coral. Patrícia Costa já tinha ido para a Polônia, mas sua presença e profecia da medalha seguia nos acompanhando o tempo todo.


Deixamos a poeira baixar, seguimos viagem, voltamos ao Brasil, e lentamente fomos entendendo a importância de termos ido a Riga e participado do Grand Prix of Nations. Um sentimento que gera movimento. Já estamos pensando no próximo concurso, no ano de 2019. Mais maduros, mais experientes, mas com o espírito cada vez mais jovem. Muitos corações que pulsam em busca de novas aventuras. Talvez o mesmo espírito que movia Sancho Pança e Don Quixote nas aventuras pelo mundo. Agora vamos para a próxima aventura. Essa que descrevi já faz parte das nossas histórias. Quixotescamente falando: “seja passado o passado. Dobra-se uma vereda e pronto.”

terça-feira, 13 de junho de 2017

Boca Que Usa preparação para o Grand Prix of nations

BOCA QUE USA - O QUE É ISSO?
Deixe-nos contar um pouco da nossa história. Se você gosta de música, e da cultura que é produzida no Brasil, separe uns minutinhos para nos conhecer melhor, você não vai se arrepender.
O CANTO CORAL NA LETÔNIA - O CONCURSO DOS CONCURSOS!
Estamos a pouco mais de 1 mês de um dos concursos de corais mais disputados no mundo, que nessa edição será realizado na Letônia.
O canto coral está para a Letônia como o samba está para o Brasil.
Neste concurso, só participam corais premiados em concursos internacionais recentes e com uma alta pontuação no ranking internacional de coros: ou seja, é uma disputa entre campeões do mundo inteiro.
E o que um pequeno coral, fundado em Niterói há 20 anos, tem a ver com isso?
Nós estamos classificados para este concurso!
Nenhum grupo brasileiro conseguiu essa proeza antes.
E como conseguimos isso?
TRAJETÓRIA INTERNACIONAL DO BOCA QUE USA
Bem, há 20 anos, quando fundamos o grupo, a gente não imaginava que isso  aconteceria um dia...
Mas com o passar do tempo, fomos vendo que os nossos passos estavam dando certo de alguma forma.
Conquistamos algumas medalhas valorosas no exterior nesse meio tempo e as histórias são intermináveis: histórias de muita luta para mantermos nossos projetos vivos e cantando, não importando o que acontecesse.  
COMO CHEGAMOS A SER CLASSIFICADOS PARA COMPETIR EM RIGA (LETÔNIA).
Mas a história de chegada dessa nossa última classificação para disputarmos este concurso entre os melhores, foi particularmente especial: conquistamos duas medalhas de ouro em Barcelona em 2014!
Lá, nos inscrevemos nas categorias de nossa maior afinidade musical: religiosa e erudita.
Somos um coral diferente, onde os integrantes participam da escolha do repertório e se revezam na regência.
Todos somos cantores e regentes ao mesmo tempo.
Não chega a ser anárquico, muitos apostariam que não daria certo, mas o fato é que esta nova experiência tem dado muitos frutos.
Mesmo assim, em 2014 nós saímos do Brasil com o espírito de sempre, de aprendermos muito com os corais europeus, nossas referências musicais desde sempre.
Saímos em expedição, e nos apelidamos de “O incrível exército de Bocaleone”, nos referindo ao bravo cavaleiro Brancaleone, retratado por Mario Monicelli no cinema que, em condições adversas, numa Europa devastada pela Peste Negra, reuniu um exército de esfarrapados em busca de um feudo, onde teriam suas vidas e almas salvas.
Nosso grito de guerra era, então, “Boca, Boca, Boca! León, León, León!”
Sabíamos que teríamos que enfrentar coros tradicionais de todos os países europeus e asiáticos que o Brasil nem de perto tem essa tradição toda no canto coral.
Mas fomos assim mesmo.
Antes de sabermos que tínhamos ido tão bem no concurso, vimos várias pessoas de vários países se aproximarem com curiosidade e alguma admiração.
Os russos elogiaram de várias maneiras a Ave Maria que cantamos em eslavo, o Bogoroditse Devo de Rachmaninoff.
Um regente, que havia sido nosso jurado, nos disse que se ele fechasse os olhos, jamais imaginaria que teriam apenas 16 vozes ali…
Todos eram unânimes em uma certeza antes de nos ouvirem: a de que não esperavam muito de um coral brasileiro.
Todos imaginaram que teriam que aturar entre 15 e 20 minutos de sofrimento com a nossa audiência, mas ficaram gratamente surpresos com a técnica e com a capacidade interpretativa do grupo.
Após a nossa apresentação nas duas categorias do concurso, o público e os jurados, quebrando o protocolo, aplaudiram o Boca que Usa de pé!
Fomos convidados para participar do concerto de gala noturno com mais dois corais consagrados de Barcelona.
Nem assim acreditávamos que as nossas duas premiações de ouro estavam nos esperando, juntamente com a mais alta pontuação do concurso...
Agora o nosso sonho de fazer música coral de qualidade no Brasil, do nosso jeito, frutificou: temos esta oportunidade na Letônia e não gostaríamos de deixá-la escapar!
Há uma comunidade brasileira na Letônia que nos aguarda ansiosa e estará presente nos dias das competições para torcer por nós. Saca as Olimpíadas?
Estamos já muito emocionados com a possibilidade apenas de podermos levar o nome do Brasil e para um evento cultural tão importante no cenário do canto coral mundial.
Estamos firmemente convencidos de que a gente conseguiu uma mistura entre o formalismo da arte europeia e o gingado brasileiro que está encantando a quem nos ouve mundo afora.
O PORQUÊ DA CAMPANHA: A NOSSA IDA ESTÁ COMPROMETIDA!
Com isso tudo, um senão: a data do ano do concurso nos pegou de calças curtas: é alta temporada na Europa.
Por mais que consigamos descontos na hospedagem e alimentação por conta da organização do concurso, os preços das passagens estão absurdos para meados de julho!
Por isso abrimos essa campanha como última esperança de não deixarmos o nosso sonho morrer e nem deixarmos nenhum cantor para trás.
Pensamos que se cada um colaborasse com um mínimo, e divulgásse-nos, ou convencesse ao menos mais um amigo a também colaborar com  20 reais, conseguiríamos ir!!
Indicações para canais de divulgação também são bem vindos, da grande, média e pequena mídia, em sua sala de aula, ou entre os seus familiares.
Formando mesmo uma rede do bem para que possamos realizar novamente a expedição do nosso "incrível exército", em direção ao nosso feudo de realizações e tesouros para a cultura brasileira!