Título do Evento: Grand Prix of Nations
Entidade Organizadora: INTERKULTUR- Alemanha
Ano: 2017
Componentes:
Sopranos: Elisa Bernardes, Giana Araujo, Letícia Gonçalves, Lina Santoro, Lívia Natividade
Contraltos: Ana Luisa Gouvêa, Erica Vilaça, Flávia Rodrigues, Márcia Godinho, Nina Fras
Tenores: Amilcar de Castro, Guilherme Campos, Gustavo Campos, Mário Sampaio, Vitor Brum
Baixos: Duda Guterres, Luioz Carlos Peçanha, Ricardo Fraga, Roberto Fabri
Os prêmios, a primeira colocação e a pontuação obtidas no “Canta El Mar” possibilitou nossa entrada, por 5 anos, em qualquer evento competitivo promovido pela Interkultur, a forte organização internacional de eventos corais.
Lina e Caco com um bebê a caminho, decidimos que eles
ditariam o ritmo da viagem: quando e onde nós iríamos. O sinal deles foi para
2017. Numa viagem com bebê tinha de ser no verão, é claro. Nos debruçamos nas diversas possibilidades e
todos ficamos seduzidos pela possibilidade de irmos ao Grand Prix das Nações,
que em 2017 seria realizado em Riga, na
Letônia. De cara, três desafios. O primeiro era que o verão encarecia por
demais as passagens e hospedagens. O segundo era o nível altíssimo que
encontraríamos lá, exigindo do Boca uma preparação e uma complexa escolha de
repertório que não nos colocasse em desigualdade vergonhosa frente aos grandes
coros, que fatalmente encontraríamos, e aos principais jurados mundiais.
Terceiro,
era a possibilidade única de cantarmos em Riga num concurso realizado na cidade
referência do canto coral mundial, onde as crianças, muitas vezes, aprendem nas
escolas maternais a solfejar, antes mesmos de serem alfabetizadas. Pesamos na balança os prós e os contras e
decidimos encarar mais uma aventura “Bocaleone”. Sem dúvida um passo muito
largo na nossa longa caminhada.
Ao retornarmos de Barcelona enfrentamos quatro perdas muito
severas no nosso núcleo fundamental de cantores que foram fazer doutorado fora
do Brasil. Lucci foi para os Estados Unidos, Flávia para a Inglaterra, Jero foi
para Nova Zelândia e, no fim, Elisa foi para a França. Podemos dizer que a
perda foi de cinco, pois a Kel, uma boquiana “não cantora”, também foi para
Londres.
Perdas complexas e insubstituíveis, principalmente para um evento
daquela envergadura. Mas por tudo aquilo que foi construído por eles e por nós,
decidimos seguir em frente com nossos projetos musicais. Felinianamente
falando, “E la nave va” ...
Escolhemos um novo repertório, aproveitamos algumas peças já
preparadas, adequamos tudo às exigências do concurso e arregaçamos as mangas
para o preparo do repertório e para a arrecadação de fundos destinados à compra
de passagens e hospedagens. Aí todo o filme retrocedeu: feijoadas, concertos
pagos, saraus, poupanças ... toda aquela mágica para se capitalizar em um país
completamente alheio às questões da arte e da cultura.
O Brasil quebrado
financeiramente, políticos corruptos fechando os cofres aos patrocínios
culturais, empresas demitindo ... dessa vez a barra foi pesada!! Amilcar assumiu novamente a complexa e difícil função de coordenar os contatos com os organizadores. Com a competência de sempre assumiu a enxurrada de e-mails com a organização do Grand Prix of Nations.
A outra questão era repormos com novos cantores a imensa
lacuna deixada por nossos companheiros de tantas aventuras. Se na questão
humana a lacuna era permanente, na questão musical o complexo repertório exigia
outras vozes.
Entrar para o Boca Que Usa
é sempre uma questão complicada. Não só pela responsabilidade musical, mas,
principalmente, pelos aspectos humanos e pela dinâmica peculiar do grupo.
O
Boca é uma família complexa e os laços afetivos guiam boa parte das nossas
escolhas e dos nossos sonhos. Às vezes discutimos um compasso ou uma linha
melódica por um longo tempo.
As interpretações são sempre temas que caberiam em
tratados filosóficos ou antropológicos! Mas é assim que funcionamos e que
resolvemos (e sempre resolvemos) nossas questões musicais.
Não é qualquer um
que consegue trabalhar assim. A maioria dos músicos prefere uma direção organizada,
com tudo mastigado, trazida por um regente tradicional.
Aqui seguimos a lógica
do caos. Estamos mais perto do conceito físico de Entropia, do que do conceito
de ordem e racionalidade. Mas o acaso também dá as ordens no Boca e começamos a
repor as peças.
O primeiro a entrar foi Jorge Miguel, exímio pianista,
excelente músico, com quem convivíamos todos os anos nos encontros de coros de
Cabo Frio.
No encontro de 2015, entre papos e cervejas, fizemos a ele o convite
para reforçar nosso bravo naipe de tenores, que recentemente tinha perdido
Lucci, e ele topou! Entrou como se já cantasse no Boca desde os primórdios do
grupo. Encaixe perfeito na filosofia “Boquiana”.
Depois entraram juntos Vítor e Pedro. Fizemos um concerto no
salão Leopoldo Miguez, Na Escola de Música da UFRJ. Os dois estavam na plateia.
Eram alunos de música da UFRJ e cantavam com o Duda no coral da Universidade.
Gostaram do trabalho, foram assistir ao nosso ensaio e saíram de lá com
partitura na mão e já integrados aos naipes. Vitor reforçou a tenorada e Pedro
substituiu Jero no naipe de baixos. Grandes aquisições! Eles entenderam rapidamente
o espírito do grupo. Já em 2016, entrou
Luizinho.
Experiente regente dos coros
do Centro Educacional de Niterói, entrou reforçando o naipe dos baixos.
Estávamos quase prontos para nossa performance em Riga. Entretanto faltavam
ainda um contralto e um soprano. Conversamos com Flávia e com Elisa, que já
estavam na Europa, e passamos a ensaiar com elas via Skype!!
Fato inédito na preparação do Boca. Se não era a formação ideal, ao menos conseguíamos estar juntos virtualmente! “Santa tecnologia Batman!!!” diria o “menino prodígio”. Fato completamente impossível num coro tradicional, mas no Boca Que Usa não!!
Fato inédito na preparação do Boca. Se não era a formação ideal, ao menos conseguíamos estar juntos virtualmente! “Santa tecnologia Batman!!!” diria o “menino prodígio”. Fato completamente impossível num coro tradicional, mas no Boca Que Usa não!!
Os ensaios funcionaram bem, e quando nos reunimos na Europa,
vimos que tudo aquilo valeu muito a pena! Pelo tempo de canto junto e pela
nossa afinidade humana e musical, quando Flávia, Elisa e Raquel se juntaram ao
grupo, parecia que elas nunca tinham se ausentado.
Nos preparativos no Brasil, o que estava pegando era a
questão da grana. O país na maior crise, os poucos voos para a Europa estavam
caríssimos, países bálticos bombando de turismo no verão de 2017 ... perigava
alguém ficar de fora. Fomos bater nas portas dos poderes públicos tentando
alguma ajuda com concertos ou patrocínio e nada ... Tive uma frustrada reunião
com um, agora ex-secretário da prefeitura de Niterói, que foi lastimável.
Sequer viu nosso projeto ou ouviu minhas argumentações sobre a importância de um grupo de Niterói (o único participante de toda a Latinoamérica) nesse evento. Chorou tanta miséria que pensei em dividir um pouco da nossa magra caixinha para ajudar a secretaria dele. Mas depois, mais próximo à viagem, algumas pessoas da Prefeitura se sensibilizaram e nos ofereceram espaços para concertos futuros.
Sequer viu nosso projeto ou ouviu minhas argumentações sobre a importância de um grupo de Niterói (o único participante de toda a Latinoamérica) nesse evento. Chorou tanta miséria que pensei em dividir um pouco da nossa magra caixinha para ajudar a secretaria dele. Mas depois, mais próximo à viagem, algumas pessoas da Prefeitura se sensibilizaram e nos ofereceram espaços para concertos futuros.
Em meio ao caos, a
Giana teve a brilhante ideia de organizar uma “Vakinha” on line e aí foi a
nossa grande surpresa. Uma grande mobilização de amigos, familiares, antigos
companheiros de coro, amantes da música coral, etc. começaram a contribuir e,
num movimento emocionante, conseguimos levantar uma grana e levar o coro
inteiro para Riga.
Aos nossos amigos “patrocinadores” criamos um vínculo de
gratidão e de afeto que a todo momento nos emociona. Doações de R$ 10, 100,
500 ... coisa impressionante de se vivenciar. Levamos para o concurso muitos
corações junto aos nossos e isso mudou nossa forma de conduzir o nosso trabalho
a partir daí. A todo o momento lembrávamos dessa responsabilidade lá.
Embarcamos todos naquela louca aventura “Bocaleone”. Além dos cantores, faziam parte do “Boca não cantante” Dona Heloisa, Mariana, Cândido e Marcelo.
Peças fundamentais em
toda a nossa aventura. Também, é claro, tinha as crianças, representantes do “Boca
Júnior”sem as quais a viagem não seria tão família: Ítalo e Gregório. Caco e
Lina, num ato de heroísmo, carrinho de bebê a punho e sem babás, levaram os
dois sem pestanejar. Ítalo, já um veterano de concursos internacionais, trazia
em sua bagagem duas medalhas de ouro, ganhas em Calella. Greg iniciava sua
longa saga, em território báltico. Juntaram-se ao grupo, em Riga, Raquel,
Flávia e Elisa, num reencontro emocionante! Jero e Lucci não conseguiram vir,
por questões profissionais. Pronto, estávamos finalmente completos e respirando
o mesmo ar. Todos em Riga, representando o coro que viajou a maior distância
para fazer parte do concurso.
A adaptação foi estranha. Seis horas de fuso horário, e um
dia de 20 horas de sol e claridade e 4 horas apenas de noite. Mas todo mundo
animadíssimo.
A cidade de Riga respirava canto coral e seu centro histórico
estava ocupado por mais de 10 mil coristas e por quase duas centenas de coros do
mundo inteiro. A agenda era apertada e com muitas atividades diárias. Logo na
primeira manhã tínhamos um concerto compartilhado com outros coros em um
pequeno auditório mantado próximo à base de organização da Interkultur.
Fomos filmados, demos entrevistas à televisão local e cantamos uma música em Leto ensinada na hora para o grupo pela repórter da TV.
Ficamos em um hotel
distante do centro, por óbvias questões de custo, mas bem confortável. Com o
crachá nós tínhamos acesso gratuitamente a todos os serviços de transporte
público, fato que facilitou bem a vida por lá.
Fizemos alguns ensaios para juntar as vozes “ao vivo” com
Flávia e Elisa e procuramos descansar bem o corpo e as vozes em um clima bem
seco e após mais de 15 horas respirando o péssimo ar nos aviões.
Nesse dia passamos o som na Catedral de San Pedro, local da competição sacra. Foi uma experiência emocionante cantar novamente em uma catedral gótica.
Nesse dia passamos o som na Catedral de San Pedro, local da competição sacra. Foi uma experiência emocionante cantar novamente em uma catedral gótica.
Construída no
século XIII, com uma arquitetura bem diferente do gótico tradicional da Europa
ocidental, a igreja possuía uma acústica perfeita para as peças sacras. Ficamos
muito impressionados com a beleza do templo e com sua sonoridade para a música
vocal.
Nesse dia teríamos o desfile das delegações nas ruas do
centro histórico de Riga. Aí, para a nossa surpresa, encontramos assistindo o
evento a nossa querida e respeitável maestrina de coros juvenis, Patrícia Costa,
regente do consagrado coro “São Vicente à capela”, aqui do Rio. A presença da
Patrícia nos encheu de alegria e confiança naquelas terras distantes.
Encontrar
a Patrícia em Riga, em meio àquela Babel toda, foi realmente uma alegria.
Ficamos juntos durante todo o concurso e sua presença lá era uma espécie de
“porto seguro”, um “amuleto” ou melhor um “muiraquitã” de boa sorte a todos
nós. Mesmo com tanta experiência em viagens internacionais para concursos
corais, aquilo era algo muito maior que tudo o que tínhamos participado até
então. Algo belo, mas assustador pela imponência e pelo tamanho do evento.
Participamos de um emocionante desfile nas ruas históricas
da cidade velha de Riga em meio a muitos aplausos. Desfilamos logo atrás de um
coro da Áustria, com uma coreografia profissional.
Gente com passos marcados,
movimentos de bandeiras e tudo o mais. Num espírito bem brasileiro Duda
improvisou uma coreografia em passos de Axé e rodadinhas que fizeram o maior
sucesso e a galera se divertiu muito dançando os “passitos dudianos”!! Vitor
segurando a placa do Brasil, Márcia, Ana e Pedro com bandeiras ... a galera com
cachecol verde e amarelo.
Ao termino do desfile, todos os coros se aglomeravam na praça em frente ao Monumento pela liberdade, praça histórica e local de importantes concentrações culturais de Riga, onde ouvimos concertos, discursos e uma linda canção entoada espontaneamente pelos milhares de participantes da cidade que assistiam ao evento e que produziram um coro afinadíssimo e emocionante. Emocionante também foi a homenagem, feita pelos organizadores, ao coro Boca Que Usa, do Brasil, como o grupo que veio do local mais distante para participar do evento. Foi igualmente lindo recebermos flores de uma senhora, anônima, que gentilmente distribuiu tulipas às meninas do Boca.
Ao termino do desfile, todos os coros se aglomeravam na praça em frente ao Monumento pela liberdade, praça histórica e local de importantes concentrações culturais de Riga, onde ouvimos concertos, discursos e uma linda canção entoada espontaneamente pelos milhares de participantes da cidade que assistiam ao evento e que produziram um coro afinadíssimo e emocionante. Emocionante também foi a homenagem, feita pelos organizadores, ao coro Boca Que Usa, do Brasil, como o grupo que veio do local mais distante para participar do evento. Foi igualmente lindo recebermos flores de uma senhora, anônima, que gentilmente distribuiu tulipas às meninas do Boca.
No terceiro dia tínhamos um compromisso em Rezekne, uma
cidade localizada próxima à fronteira da Rússia, cerca de 4 horas de viajem de
Riga. Aceitamos o convite ainda no Brasil, empolgadíssimos com a oportunidade
de cantarmos em Gors, um impressionante complexo teatral e um dos mais
importantes teatros da região báltica. O centro cultural recebe os principais
eventos musicais do calendário letoniano. Quando aceitamos o compromisso, por
inexperiência, não sabíamos ao certo qual seria a data da apresentação.
A
organização nos programou para a véspera das nossas competições, fato que
prejudicou bastante nossa concentração e nosso desempenho vocal no concurso. A
estrada que liga Riga a Rezekne estava em obras e levamos um tempo enorme de
quase seis horas para retornarmos a Riga. Chegamos de madrugada ao hotel e
descansamos pouco na véspera do concurso. Isso foi fatal. Mas foi muito prazeroso
ter viajado pelo interior da Letônia e ter cantado em Gors.
Apresentamos no teatro com o coro infanto-juvenil da Suíça, que havia acabado de ganhar uma medalha de ouro na categoria “coro jovem”, e estavam comemorando seu prêmio nesse concerto. Já tinham encerrado sua fase competitiva. O teatro (grande) estava completamente lotado pela população local e nossa apresentação foi muito impactante positivamente, tanto aos coristas da Suíça quanto aos ouvintes locais.
Quando cantamos Milestiba, uma composição em leto,
que fala do amor, podíamos ver muitas pessoas na plateia chorando. Isso não tem
preço! Fomos muito elogiados, Lina deu entrevista à TV local, e retornamos numa
infindável viagem até Riga. Ficam as boas lembranças e as intermináveis lições.
No dia seguinte, bem cedo, já estávamos a postos para passar
o som no teatro da Universidade de Riga, onde ocorreria o primeiro concurso:
música erudita para coro de vozes mistas.
Passamos o som em um teatro que possuía
um átrio, iluminado por uma grande claraboia, com colunas laterais e espaço
para uma grande plateia. Pra variar, uma excelente acústica. Passamos o som em
exatos 15 minutos, nem um segundo a mais era permitido. Saímos do teatro e
ficamos nas cercanias aguardando a nossa hora de botar para fora tudo o que
preparamos ao longo dos ensaios. Não foi possível assistir os coros que nos
antecederam. O teatro não cabia nem uma mosca. Mas creio que isso foi bom.
Aguardamos por cerca de 30 minutos numa antiga sala da universidade, estilo
art déco, onde, relaxamos, concentramos, nos abraçamos, e conversamos muito. Vinha à nossa
mente os amigos que nos ajudaram na vakinha. Levávamos conosco a confiança de
tanta gente amiga.
Também falamos dos nossos antigos mestres de canto coral. Elza Lakschevitz, Ermano Sá, Antonio Vaz, Carlos Alberto, Samuel Kerr, Oscar Escalada, Ruy Capdeville ... tanta gente que de algum modo havia contribuído para estarmos ali, no meio daquelas feras todas, como único representante da América Latina.
Também falamos dos nossos antigos mestres de canto coral. Elza Lakschevitz, Ermano Sá, Antonio Vaz, Carlos Alberto, Samuel Kerr, Oscar Escalada, Ruy Capdeville ... tanta gente que de algum modo havia contribuído para estarmos ali, no meio daquelas feras todas, como único representante da América Latina.
E, com aquele
sentimento de pertencimento a algo muito maior, e muito felizes por estarmos
num evento daquela magnitude, entramos finalmente no palco.
Nove atentos jurados nos olhando impassíveis. Alguns já nos
conheciam em concursos passados. Tinham feições mais amigáveis. Outros
totalmente insensíveis. Entramos com serenidade e confiança.
Encaramos os
jurados e a plateia e encontramos, logo na frente, nos olhando com a mais
bonita das expressões faciais, a Patrícia Costa! Ufa! Alivio!! Um rosto
conhecido e amigo na plateia. No familiar sorriso da Patrícia, nos dando a
maior força, nos apegamos e fomos fazendo peça a peça. Monteverdi, um pouco
tenso. Milestiba abriu um portal e um canal de comunicação com a plateia e com
o jurado da Latvia. Tinha muita gente chorando de emoção na plateia ao ouvir essa
peça. Ficamos mais confiantes. Water night foi um pouco aquém do que
acostumávamos apresentar, mas foi bem.
Irerê foi muito abaixo do que estávamos
acostumados. Música longa, coro duplo, exige sempre muita energia, aí, os
muitos quilômetros da véspera pesaram um pouco. Ofulú foi uma música arrebatadora!
Deu uma pancada na plateia e nos jurados e foi a nossa maior pontuação nessa primeira competição do Grand Prix. A música brasileira tinha cumprido a
sua parte!
Saímos do concerto com uma sensação de que fomos bem, mesmo não atingindo nosso melhor. Isso ficou claro. Mas não era hora de pensar no que passou. Tratamos, da melhor forma possível, de reorganizar nossas forças e nossa concentração, pois no final da tarde tínhamos outra pedreira ainda maior. O concurso sacro. Chegamos à Catedral uma hora antes e tratamos de nos concentrar da melhor forma possível.
Saímos do concerto com uma sensação de que fomos bem, mesmo não atingindo nosso melhor. Isso ficou claro. Mas não era hora de pensar no que passou. Tratamos, da melhor forma possível, de reorganizar nossas forças e nossa concentração, pois no final da tarde tínhamos outra pedreira ainda maior. O concurso sacro. Chegamos à Catedral uma hora antes e tratamos de nos concentrar da melhor forma possível.
Sentíamos nitidamente o cansaço da longa viagem a Rezekne, o frio vespertino e as condições do ar. Mesmo no verão, quando o sol baixava o frio era
intenso para um coro carioca acostumado às altas temperaturas do Rio de Janeiro.
Relaxamos, fizemos exercícios respiratórios e nos concentramos. Ao entrarmos na
catedral, o forte cheiro de incenso e a secura do ar imposta pelos aquecedores ressecou
muito nossas gargantas. Isso foi bem difícil. As vozes falhavam, quebravam e não
obedeciam ao nosso comando. Mas mesmo assim mantivemos a concentração. Bogoroditse
dievo foi uma peça de adaptação. Fizemos bem abaixo do que estávamos
acostumados. Recuperamos um pouco o controle vocal em Crucifixus e nos
estabilizamos em Ave Verum, uma ótima
interpretação, com uma boa pontuação. Deus
qui illuminas, igualmente, teve boa performance. Encerramos com “o Magnum Misterium”,
que obteve uma excelente nota. Nossa maior nota no evento. Depois vimos que ficamos muito próximo do ouro
...
Uma vez mais os “bocas não cantantes” nos deram aquela força
antes, durante e depois das apresentações. Cândido e Marcelo fotografando tudo,
Mariana e Raquel sempre presentes e dando ajuda com as crianças e nos apoiando.
Helô também presente com sua torcida.
Patrícia sempre conosco, dando muita coragem e energia para
o grupo. Já entramos na catedral procurando o seu rosto amigo. No final
profetizou que ganharíamos medalhas.
Ficamos descrentes. Saímos da catedral com a sensação que poderíamos ter
ido bem melhor, apesar de termos feito uma ótima apresentação. Essas exigências sempre foram uma marca do
Boca. Mas no fundo estávamos felizes pelo dever comprido. Não tínhamos feito
feio não. Estávamos no nível da maioria dos coros. E isso é muito para uma ilha
coral chamada Brasil. Não podíamos esquecer isso e Patrícia Costa, uma vez
mais, nos puxou para a realidade lembrando de onde vínhamos e onde estávamos.
Falou da importância de estarmos ali, naquele mega evento, participando e, o
principal, aprendendo e representando o Brasil e a Latinoamérica.
Descemos a um Pub medieval, nos subterrâneos da cidade
histórica, levados pela nossa eficaz e competente guia, a Liva. E agora, sem
quaisquer compromissos, à medida que tomávamos umas cervejas a adrenalina ia
baixando começávamos a nos dar conta do tamanho e do peso dessa aventura.
Estávamos muito felizes e nos permitimos finalmente relaxar
e festejar muito. Na sala do pub que estávamos tinha tinha umas arcadas medievais
e no fundo um piano, que passou de mão em mão. Terminamos a madrugada tocando e
cantando música brasileira para uma plateia de várias partes do mundo, mais que
empolgada com as músicas de Jobim, Milton, Nazaré, Zequinha de Abreu, Dorival
Caymmi ... Saímos de lá com o corpo e a alma lavada!! Fizemos a festa!
No dia seguinte, no meio da tarde, seria a cerimônia de
encerramento. O evento foi realizado na Arena de Riga, um imenso ginásio poliesportivo
com capacidade para milhares de pessoas. Ali foi possível dimensionar o tamanho
do evento. Uma festa de proporções olímpicas, hollywoodianas, com direito a pirotecnia,
telões, efeitos especiais, canto coletivo, orquestra e um coro de mil vozes. Nos
concertos de encerramento, assistimos peças compostas e regidas pelos
principais nomes mundiais da música coral, como John Rutter. Muitas foram compostas especialmente para o evento. Teve também um belo desfile feito por
atores com roupas típicas e aludindo costumes dos países participantes. Foi emocionante ver o Brasil
representado lá, em meio às principais nações do mundo. Num momento de profunda
baixa da autoestima nacional, estávamos lá, nos orgulhando de nossa origem e
sonhando com um Brasil melhor. Sem dúvidas fizemos a nossa parte.
Na entrega de prêmios eu e Lina, na condição transitória de diretores
do Boca naquele evento, ficamos isolados da galera, aguardando angustiados se
seríamos premiados ou não. Primeiro foi a categoria de música erudita para coro
misto.
Quando chamaram o nome do Boca, com a prata, foi uma alegria geral! Ficamos contidos formalmente no palco, mas no fundo tínhamos a plena alegria do dever cumprido.
Quando chamaram o nome do Boca, com a prata, foi uma alegria geral! Ficamos contidos formalmente no palco, mas no fundo tínhamos a plena alegria do dever cumprido.
Em seguida a música sacra, categoria mais disputada e aberta
a todos os coros. Mais uma vez a prata!! Emoção incontida! Passava na mente,
novamente, um filme de nossa longa trajetória. Depois foi correr para o abraço com
a família BQU!! Fomos sentindo aquela energia boa após tanto tempo de trabalho
e dedicação. Nossos velhos mestres, onde quer que estejam, e nossos amigos de sempre certamente não se decepcionaram.
Estávamos muito contentes com esse aprendizado único, em um evento de
proporções gigantes no mundo coral. Patrícia Costa já tinha ido para a Polônia,
mas sua presença e profecia da medalha seguia nos acompanhando o tempo todo.
Deixamos a poeira baixar, seguimos viagem, voltamos ao
Brasil, e lentamente fomos entendendo a importância de termos ido a Riga e
participado do Grand Prix of Nations. Um sentimento que gera movimento. Já estamos
pensando no próximo concurso, no ano de 2019. Mais maduros, mais experientes,
mas com o espírito cada vez mais jovem. Muitos corações que pulsam em busca de
novas aventuras. Talvez o mesmo espírito que movia Sancho Pança e Don Quixote
nas aventuras pelo mundo. Agora vamos para a próxima aventura. Essa que
descrevi já faz parte das nossas histórias. Quixotescamente falando: “seja passado
o passado. Dobra-se uma vereda e pronto.”