Título do Evento: Canta al Mar 2014 - Festival Internacional de Coros
Entidade Organizadora: INTERKULTUR- Alemanha
Ano: 2014
Componentes:
Sopranos: Elisa Bernardes, Giana Araujo, Letícia Gonçalves, Lina Santoro, Lívia Natividade
Contraltos: Ana Luisa Gouvêa, Erica Vilaça, Flávia Rodrigues, Márcia Godinho, Nina Fras
Tenores: Amilcar de Castro, Guilherme Campos, Gustavo Campos, Luciano Dyballa, Mário Sampaio
Baixos: Duda Guterres, Jerônimo Menezes, Ricardo Fraga, Roberto Fabri
Após o prêmio do concurso Ameride, decidimos que era hora de retornarmos aos palcos europeus, ao encontro dos concursos corais. O desafio era grande e exigia uma enorme logística operacional.
Primeiramente tínhamos decidido aumentar o grupo: fato fundamental para a escolha e execução de um repertório mais elaborado. A jornada de Tolosa nos ensinou o quanto era fundamental a escolha do repertório. Teríamos de levar músicas que combinassem uma elevada complexidade técnica, um impacto interpretativo e, se possível, algo novo, fora do repertório mais tradicional.
Fomos lentamente aumentando nossas fileiras. Inicialmente entraram Elisa e Letícia, egressas do antigo Coro Infantil do Rio de Janeiro. Retornaram Nina e Amilcar, fundadores do Boca, e Luciano, que voltava a Niterói. Um pouco depois, chegaram Érica e Mário. Fechamos um grupo com uma grande afinidade musical e afetiva.
O segundo desafio operacional era a escolha do concurso e a partir daí, a do repertório. Decidimos buscar um concurso da respeitada Fundação alemã INTERKULTUR, responsável por organizar alguns dos principais concursos corais mundiais. Em uma minuciosa pesquisa, vimos que o concurso de Calella era o mais concorrido nos últimos anos, apresentando uma grande diversidade de coros e nações, com um alto nível musical.
Enviamos o nosso material e, pela primeira vez, um coro brasileiro foi aceito nesse disputado evento. Como desafio, escolhemos concorrer nas duas categorias de ponta do concurso: música erudita e música sacra.
O terceiro desafio era viabilizar economicamente nossa viagem à Espanha. Como o Boca Que Usa é um coro independente, tivemos de organizar saraus, caixinhas, rifas, concertos, feijoadas, etc ... visando minimizar os custos pessoais desse empreendimento.
Definimos nosso repertório após longas ponderações e pesquisas intensas. Passamos imediatamente a trabalhar e apresentar as peças em concertos e encontros corais. Em setembro, no Festival internacional de Coro de Cabo Frio, apresentamos o repertório em ritmo de concurso. Ruy Capdeville e outros amigos previram premiação na Europa. Mas é claro que essa era, ainda, uma possibilidade muito distante para nós.
Uma vez mais a nau "Bocaleone" atravessava o Atlântico em busca dos concursos corais ... uma vez mais, o palco era a Espanha. Mais especificamente a Catalunha: Barcelona. Em Calella, uma bela e importante cidade litorânea, nos subúrbios de Barcelona, ocorria boa parte do evento e a hospedagem dos inúmeros coros.
Ao chegarmos a Calella, assustamos com o número de participantes: cerca de 2500 cantores enchiam a pequena cidade de alegria e som. Calella respirava música coral. O concurso de Calella foi o mais concorrido concurso europeu em 2014. O evento reuniu o maior número de corais e nações concorrentes (64 coros de 28 países), de todos os continentes.
As competições sacras e eruditas seriam realizadas
na histórica catedral de Santa Maria Del Pi, a primeira igreja gótica de
Barcelona, localizada no igualmente histórico Bairro Gótico.
A categoria saca ocorreu à tarde. Iniciamos com uma
peça da liturgia ortodoxa Russa, de Rachmaninoff fato
surpreendente e que nos rendeu elogios e contatos com muitos coros do Leste
Europeu.
Em seguida, a
Catedral cantou com o Boca o emocionante Ave Verum de Imant Raminsh, selamos
nossa performance com a bela e contemporânea Deus Qui Illuminas, interpretada
de forma impactante. Durante nossas apresentações no concurso, o público aplaudiu o
coro entre uma música e outra, quebrando o protocolo, e, ao término da
apresentação sacra, fomos aplaudido de pé pelo público presente. Sensação
inesquecível!
No mesmo dia, à noite, nos apresentamos na categoria erudita.
Tratamos de colocar em prática as lições aprendidas em Tolosa e permanecemos
concentrados e poupando a voz até nosso retorno à catedral. Iniciamos com
Monteverdi, atendendo regras do concurso, em uma levíssima e elogiada apresentação. Fizemos, em seguida, a complexa
e dissonante Ondi Jueron.
Seguimos com Irerê, de Marcos Leite, inspirada em Villa-lobos, onde as paisagens brasileiras de florestas, sertões e veredas foram perfeitamente transmutadas em som vocais. Fechamos de forma emocionante com Ofulú Lorerê, um canto afro-brasileiro rítmico que levantou uma vez mais a plateia e os jurados. A catedral entendeu e cantou conosco a rítmica afro-brasileira.
Essa pontuação garantiu ao Boca que Usa entrada automática
(sem pré-seleção) em qualquer concurso promovidos pela Interkultur até o ano de
2019 e nos qualificou para os The World Choirs Games de 2016 a ser realizado em
Sochi, na Rússia e o de 2018 em país a ser definido.
A performance musical competitiva, realizada na
histórica catedral gótica de Santa Maria del Pi, em Barcelona, proporcionou ao grupo elogiosas
críticas na imprensa e nos meios musicais, rendendo ao Boca inúmeros
convites para concertos, concursos e festivais em diversos continentes.
Um
dia após o concurso, ainda sem sabermos do resultado, participamos do
importante concerto "music and Ligth", um concerto de gala
apresentado na importante catedral de Santa Maria i Sant Nicolau, em Calella,
preparado pelo comitê organizador, no qual compartilhamos o palco com dois
excepcionais e emblemáticos coros europeus o feminino Viva (Noruega) e Coro
Vivaldi (Barcelona, regido por Oscar Boada).
Cada um, de sua forma, viveu a sensação de plenitude musical, objetivo alcançado, valorização solitária e coletiva do nosso trabalho. Pensamos também naqueles que nos apoiaram sempre e que não estavam ali para ver e sentir aquilo tudo. Os muitos cantores que ajudaram a construir essa história e que, por algum motivo também não estavam ali ... comemoramos muito lá e aqui.
Mas a nossa história não para aqui.
Continuamos nossos sonhos e reiniciamos a todo vapor nossos trabalhos, já pensando nos futuros concursos. Concertos, caixinhas, cds, feijoadas, saraus ... rotina extensa para os empobrecidos coros amadores brasileiros, que se alimentam de sonhos e utopias.
Para onde vamos na próxima viagem? Talvez Russia, Veneza, França ...?? Esse destino só o tempo e a "caixinha" vão poder dizer!
Continuamos nossos sonhos e reiniciamos a todo vapor nossos trabalhos, já pensando nos futuros concursos. Concertos, caixinhas, cds, feijoadas, saraus ... rotina extensa para os empobrecidos coros amadores brasileiros, que se alimentam de sonhos e utopias.
Para onde vamos na próxima viagem? Talvez Russia, Veneza, França ...?? Esse destino só o tempo e a "caixinha" vão poder dizer!