terça-feira, 29 de outubro de 2019

Concurso Internacional de coros de Riva Del Garda - Itália "In Canto Sul Garda"

Título do Evento: Concurso Internacional de coros de Riva Del Garda - Itália "In Canto Sul Garda"
Entidade Organizadora: Meeting Music - Hungria
Ano: 2019
Componentes:
Sopranos: Elisa Bernardes, Giana Araujo, Letícia Gonçalves, Micheli Viégas
Contraltos: Ana Luisa Gouvêa , Carol Duarte, Erica Vilaça, Flávia Rodrigues, Márcia Godinho, Nina Fras
Tenores: Amilcar de Castro, Bruno dos Anjos, Guilherme Campos, Gustavo Campos, Mário Sampaio
Baixos: Francisco Carriço, Pedro Marcos, Ricardo Fraga, Roberto Fabri



Estávamos de volta aos ensaios, após a experiência fascinante em Riga. Um evento colossal, reunindo mais de uma centena de coros de todo o planeta, milhares de coristas, um exército de voluntários da comissão organizadora ... enfim, um evento digno de uma olimpíada coral.
Compartilhar o mesmo espaço e respirar o mesmo ar de ídolos como Jonh Rutter, Eric Whitacre, Morten Lauridsen, dentre muitos outros, foi uma experiência maravilhosa. Mas estávamos de volta aos ensaios e à nossa realidade de coristas cariocas. De volta à realidade e ao isolamento geográfico dos coros brasileiros.


De cara, pegamos o já assumido desafio de executarmos algumas músicas na Bienal Brasileira de Música Contemporânea e só fomos digerir a experiência de Riga tempos mais tarde.
Depois da Bienal, perdemos Duda, Jorge e Lina. Foram cuidar dos projetos pessoais e de suas carreiras musicais. Luizinho, em licença paternidade, saiu um pouco depois. Elisa e Flávia continuaram na Europa para finalizar o doutorado, e Ana entrou em licença pelo mesmo motivo. Uma vez mais, tivemos que reconstruir o grupo... mais um momento difícil.


Seguramos a barra com quem ficou e fomos, lentamente, recompondo as peças do nosso mosaico de vozes.
A primeira a entrar foi Carol. A vi cantando num concerto de formatura em regência coral da mãe dela. Senti de imediato que ela tinha a cara e a energia do Boca. Fiz o convite e ... bingo!!! Entrou como se cantasse conosco a vida inteira.
Carol trouxe a Micheli. Outra cartada certeira! Micheli também parecia uma componente fundadora do coro. Logo se entrosou com Pedro, e ambos assumiram o preparação vocal do grupo. Rapidamente mudaram para melhor o nosso som e o nosso modo de cantar.
Em seguida entrou o Bruno. Com aquele jeito tranquilão, uma facilidade enorme de juntar o som e uma linda voz, entrou para a família e não saiu mais.
Por último veio Francisco. Experiente, sensível e também com uma profunda intimidade musical com o Boca, amalgamou perfeitamente a sonoridade dos baixos e rapidamente já estava em casa no grupo. Depois chegou Mariana, que, por compromissos já assumidos não pode viajar ao concurso. Do mesmo modo que a Lívia, figura central na dinâmica do Boca, por estar grávida da Liz, preferiu uma licença sabática e dessa vez ficou num merecido repouso.
Ao longo de 2018, para nossa alegria, voltaram pra casa Ana, Elisa e Flávia.
Incrível, estávamos completos novamente, e prontos para sonhar com a nossa próxima aventura "Bocaleone"!

Passamos a buscar um concurso fora da alta temporada, para facilitar o custo da viagem. Uma vez mais, contar com ajuda pública ou privada era tarefa impossível. Nossa última experiência com o secretário de cultura de Niterói, Arthur Maia, tinha sido humilhante. Jurei nunca mais entrar naquele prédio da secretaria de cultura, tamanha foi a falta de educação e o desprezo por parte do nosso ex-secretário. Águas passadas!
Das possibilidades presentes, escolhemos o concurso de Riva del Garda, na Itália, pela conhecida tradição em agregar bons coros competidores em seu longo tempo de existência. Fato claramente comprovado nessa edição.  A beleza estonteante do lago de Garda, emoldurado pelas Dolomitas, também pesou na nossa decisão. Escolhemos cantar naquele paraíso, fato que, por si, já era um prêmio.

Como é tradicional, escolhemos o repertório com base nas regras do concurso, e nos inscrevemos nas categorias de música sacra e de música erudita. Nesse concurso, o grupo escolheu o Pedro e eu como regentes temporários. Dessa vez combinamos que Pedro assumiria toda a parte sacra e eu a parte erudita.
Amilcar, com sua admirável competência administrativa, assumiu, uma vez mais, a árdua e fundamental tarefa de diretor executivo da viagem, fazendo os inúmeros contatos burocráticos com a organização, gerenciando partituras, documentos, depósitos ... tarefa hercúlea, sem a qual seria impossível esse empreendimento.
Entramos de cabeça no preparo do repertório. Márcia, Gustavo, Caco, Nina, Pedro e eu assumimos a preparação das peças de concurso. Mário, Márcia e Micheli se dedicaram às peças não competitivas. Trabalhamos pesado na técnica vocal do Pedro e da Micheli, focando a melhor execução possível das músicas durante o evento.

No meio do ano, a maravilhosa notícias da medalha de ouro conquistada pelo São Vicente à Capella, na Áustria, sob a direção da nossa queridíssima amiga Patrícia Costa, nos encheu de orgulho e de esperança! A bela vitória desse nosso coro irmão, injetou uma boa dose de energia na nossa etapa final de preparação.

Um pouco antes dessa conquista, a possibilidade de não contarmos com Lívia e Mari no concurso, gerou uma enorme preocupação no naipe de sopranos, devido aos inúmeros divises presentes no complexo repertório escolhido. Entretanto, a dedicação e disposição das contraltos mais agudas, fazendo algumas linhas de sopranos permitiu que o projeto continuasse. Nina, Carol, Flávia, Ana e até o Bruno, se revezaram em apoio às nossas bravas sopranos, e tudo deu certo.

Fizemos diversos e importantes concertos, experimentando, gravando, ouvindo e observando o resultado das músicas escolhidas. Fizemos ajustes, mudamos concepções, estudamos a estética musical de cada peça, utilizamos a pintura e a história da arte para compreendermos melhor os diferentes estilos e, como sempre, muita autocrítica, muita conversa, muitas opiniões e, no final, o consenso ... bom, isso é o Boca que Usa: "o porco espinho".

Embarcamos no melhor estilo Rolling Stones: pequenos grupos em datas, empresas aéreas e roteiros de vôos completamente individuais. O importante é que na data combinada todos nós estávamos juntos no mesmo hotel em Riva del Garda, focados no concurso e embevecidos com a impressionante beleza do Lago de Garda.

Nossos bocudos não cantantes estavam lá, junto a nós, dando aquele apoio moral e operacional. Dona Heloísa, figura e talismã sempre presente em nossas viagens. Marcelo, veterano de muitas batalhas estava lá firme e forte! Nosso documentarista, fotógrafo, consultor enólogo, e detetive cibernético de personalidades ocultas!! Quantas descobertas surpreendentes!
Ganhamos pela primeira vez os reforços de Jairo e de Mariella, querida corista e amiga que está morando na Sicília. Francisco veio com Emília, também estreante nas nossas viagens internacionais. Foram fundamentais!

Dessa vez não tivemos a presença do Cândido, da Kel, nem de Ítalo e Greg. Mas Ludi e Elen voltaram a viajar com o Boca após as viagens boquianas para a Argentina. E trouxeram as crianças do "Boca Júnior": Manu, Clarinha, Joca, Gustavinho, Helena e Lucas. É incrível como as crianças dão alegria ao grupo.

 Depois chegou a tia Teca, da Nina, que veio diretamente da Ligúria para nos prestigiar. Torcida organizada e tudo nos concursos! Foi lindo!
Lucci e Lívia, mesmo distantes, nos acompanharam em tempo real pela internet. Parecia que estavam ali de corpo presente, dando força, sugestão, empurrando o grupo ... na verdade, estavam mesmo ali.
Finalmente ficamos num bom hotel, apesar de um pouco distante do centro. Mas os funcionários compensaram a distância com gentileza e dispuseram um espaço permanente para os nossos ensaios.
Logo chegamos e fomos desfilar no desfile das delegações internacionais pelas belas ruelas medievais do centro histórico de Riva del Garda. Festa total e muita alegria na delegação brasileira, com a farra de sempre. Como era por ordem alfabética de países, saímos na comissão de frente! Nenhuma mais bonita e mais animada que a nossa!
A comissão organizadora nos convidou para cantarmos duas peças no concerto de abertura, nessa mesma noite. Levamos música brasileira. Numa atitude já madura, entramos no palco num clima ótimo, com uma química bem legal. Fomos o quarto grupo a se apresentar.
Micheli abriu a nossa temporada italiana regendo belamente "Flor" da Monique Aragão. Pelos aplausos, sentimos que tínhamos atingido a plateia no coração. À medida que a música fluía, víamos que os ouvintes começavam uma imersão no nosso modo de fazer música. A formação em meia lua, só utilizada por nós, trazia a plateia para o palco. No fim da execução, já tínhamos o público em nossas mãos.


Em seguida, Márcia regeu o "Chovendo na Roseira". No nosso arranjo, iniciando com sons da chuva na mata atlântica, o ambiente tropical invadiu o ambiente alpino, trazendo para o Brasil os corações europeus. Foi uma experiência única. À medida que a bela harmonia de Tom Jobim entrava em cena, o público entrava na música conosco. Ao fim da peça, quando retornavam os sons da floresta tropical, percebemos que os ouvintes estavam no meio da floresta, juntos com a nossa música. 
Foi mesmo uma experiência inesquecível e deixamos uma ótima impressão no nosso primeiro concerto em terras italianas.
Mal tivemos tempo de dar uma respirada, e no dia seguinte, cedo, já estávamos no ônibus a caminho do "Casinó de Arco", para testarmos a acústica no palco onde ocorreria a competição de música erudita. O cassino é um prédio histórico, aos moldes de um palácio neoclássico, com um belo teatro em seu salão nobre. Vimos que a acústica nos favorecia, pelas nossas características vocais e de repertório. Poderíamos abusar das dinâmicas. O coro se ouvia muito bem e a sonoridade nos permitia exagerar nos pianíssimos.
Voltamos ao hotel, descansamos e no meio da tarde fizemos nosso último ensaio da categoria erudita antes do concurso. 

Toda a parte musical estava já exaustivamente trabalhada. Agora o foco era a questão interpretativa. Sem dúvida a mais complexa e a maís difícil de ser trabalhada. Necessitava de uma imersão subjetiva de todo o coro no conteúdo sensorial de cada música. Optamos por trabalhar com paisagens musicais. Water Night, nos direcionava a uma encantadora paisagem noturna, aquática, onde dois amantes sentiam e misturavam a força da paixão, com a força da natureza, em sintonia perfeita. Nina já tinha feito essa proposta durante a preparação e seguimos esse espírito. 

Em seguida, buscamos introjetar a força expressiva de Ofulú, com a energia da mistura de raças e de culturas do Brasil. Absorvemos e levamos em nosso coração a beleza do nosso país. Em seguida trabalhamos e mergulhamos nas paisagens sonoras dos textos de Shakespeare. A atmosfera de encantamento de Full Fathon, a concretude textual de The Cloud e a leveza flutuante de Over Hill se fizeram perfeitamente presentes. Finalmente, associamos a paisagem renascentista de Ecco às belas paisagens do lago de Garda. Caco tinha feito um belo trabalho de montagem dessa peça, e essa nova paisagem foi a cereja do bolo. Estávamos prontos para a prova do dia seguinte.

Acordamos cedo, colocamos nosso uniforme mais colorido, e seguimos para o Cassino de Arco. Notei, no café da manhã, uma tranquilidade e uma energia muito boa entre todos nós. Todos muito relaxados, sem stress, preocupados apenas em mostrar nosso trabalho. Durante o concerto de abertura, alguns coristas "concorrentes" fizeram algumas provocações do tipo " see you in the competition" ... etc. Lá na Europa, a galera vai aos concursos para competir mesmo. É "chumbo grosso"!  Entretanto, sempre acreditamos que a verdadeira competição é do coro com ele próprio. Esse sempre foi o nosso lema. Passamos por isso de forma divertida e jocosa.

Chegamos ao local, nos concentramos e ficamos aguardando a chamada para entrarmos em cena. fizemos o nosso tradicional "alfa", com falas maravilhosas de todos. Esse, sim, é sempre um momento mágico, de muitas emoções e confiança mutua. Na ordem, fomos o primeiro coro a concorrer. Situação complexa, pois um jurado jamais dará uma nota muito alta ao primeiro coro, já que ele não tem noção do que virá pela frente. Mas, por outro lado, sabíamos que uma boa apresentação colocaria uma espécie de "nota de partida" para os demais coros.
Entramos confiantes, cabeça erguida, sorriso no rosto e muita energia boa.
Entramos e cantamos Water Night com naipes misturados, como ensaiamos sempre. Os acordes extremamente dissonantes foram acontecendo de forma natural e sincrônica. As paisagens sonoras foram surgindo e, no final, sabíamos que o objetivo tinha sido cumprido. Aí veio Ofulú. Impacto total. trouxemos o Brasil para os Alpes e a energia fantástica da música afro-brasileira foi soberana. Os jurados abandonaram as partituras e acompanharam cada movimento do coro.

Segundos antes de iniciarmos a primeira canção de Shakespeare, que começa com sons de sinos, a velha catedral medieval de Arco, começou a trocar seus sinos: sentimos aí uma espécie de prenúncio do que viria. Uma nítida sintonia ente nós e aquilo tudo à nossa volta. As canções saíram muito bem, cada qual com sua diferente paisagem sonora. Algo extremamente desafiador. Mas tudo aconteceu conforme trabalhamos. Fato claramente comprovado na avaliação posterior, e mais que elogiosa, do júri aos regentes. Por último fizemos o renascimento italiano. Foi nítido que a paisagem do lago de Garda veio para o palco com toda a beleza e encantamento. 

 


Era clara a surpresa expressada no rosto da plateia, durante, e ao fim da nossa apresentação. Tivemos uma nota muito alta nessa peça. Fato que nos causou imensa alegria, tendo em vista que os dois jurados italianos são especialistas em musica renascentista italiana.


Vimos as ótimas apresentações dos demais coros e, além do constante aprendizado, notamos que a disputa seria dura. Mas voltamos ao hotel com a nítida sensação de metade do dever cumprido.
Demos folga a todos nessa tarde e a maioria foi explorar as belezas no entorno do Lago de Garda.

À noite voltamos ao teatro do "Casinó de Arco", onde compartilhamos o concerto com coros da Finlândia, Suécia, República Tcheca e Reino Unido. Foi uma alegria imensa ver tanta coisa boa. Apresentamos Purelle Tuulta, peça finlandesa, regida por Mário; Ecco mormorar, Flor e Ofulú. Mais uma resposta surpreendente da platéia, formada predominantemente por coristas. 
No dia seguinte, à tarde, Pedro assumiu a direção musical do Boca e passamos de forma bem criteriosa as peças sacras. Abrimos com Crucifixus a 8 vozes, uma bela e complexa peça de Lotti, curiosamente apresentada por outros coros do evento. 

Tinha sido trabalhada pela Márcia. Uma primeira parte bem complexa e dissonante, seguida de contrapontos. Em seguida fizemos os ajustes finais em O Magnum Mysterium. Peça já conhecida e que exigia uma performance vocal intensa. Fizemos um pouco mais lenta, como propôs Guta, em seu trabalho ao longo do ano, com um belo resultado interpretativo. Seguimos com Mirabile Mysterium, peça renascentista  de Gallus, cromática e muito impactante. Pedro trabalhou os cromatismos e os contrapontos.  Por último relembramos Ave Verum, de Imant Raminsh, anteriormente preparada pelo Caco e, na fase final, foi devidamente ajustada em seus diversos andamentos por Pedro.

Dormimos cedo, descansamos e nos preparamos para a parte final do concurso. Durante o jantar, Amilcar recebeu um comunicado da organização que faríamos parte do Grand Prix, uma mini competição que ocorreria durante a entrega de prêmios e na qual concorriam os coros que obtivessem uma pontuação acima de 24 pontos. Isso nos encheu de alegria, pois mostrava que tínhamos ido muito bem na parte erudita.
No dia seguinte, testamos cedo a acústica do teatro da Chiesa San Giuseppe. Ao contrário do Casinó, essa acústica não nos favorecia. Um mega espaço, com milhares de lugares e um teto muito alto. Muita dificuldade em ouvir os demais componentes. Fechamos um pouco a meia lua, mas mesmo assim a acústica não favorecia. Ficamos em uma pequena sala à espera de sermos chamados para a apresentação.

Subimos ao palco e fizemos uma meia lua mais fechada, fato que, apesar de melhorar um pouco a nossa escuta, não agradou visualmente aos jurados e, depois, fomos alertados para isso durante a avaliação feita pelos jurados aos regentes.
A apresentação de Crucifixus foi bonita, apesar de baixar ligeiramente a afinação. Perdemos pontos com isso. No Magnum Mysterium, também tivemos problemas com a baixa de afinação. Nada que comprometesse a beleza da peça, mas os diapasões do juri são imparciais...
Pedro dirigiu o grupo de forma competente e manteve o foco ao longo da apresentação. Fomos muito bem no Mirabile Mysterium e obtivemos uma pontuação muito alta. O mesmo ocorreu no Ave Verum. Fizemos uma apresentação emocionante nas duas últimas peças, onde a química boquiana voltou a funcionar. Saímos felizes com o resultado. Poderíamos ter ido melhor, mas nossa apresentação, mesmo com alguns problemas, foi suficiente para nos garantir o ouro na competição sacra.

Há que se louvar a dedicação e a entrega de Pedro. É sempre um desafio enorme reger um coro em um concurso internacional dessa envergadura. E Pedro, apesar de tão jovem, assumiu de forma corajosa essa empreitada e o resultado é que ele já traz em seu currículo de regente uma medalha dourada.
Ao sairmos da Igreja com os demais coros, nos deparamos com o simpático e competente coro feminino da Finlândia. Cantamos para eles "Purelle Tuulta", uma composição finlandesa  de Mia Makaroff. Foi um momento de extrema emoção e troca humana. Coisa que só é possível pela total quebra de fronteiras que só a música proporciona. Um belo momento de confraternização verdadeira e livre de qualquer espírito competitivo.
No fim da noite foi a cerimônia de entrega de prêmios. Não tínhamos preparado peças específicas para o Grand Prix e resolvemos repetir a dose com Flor e Chovendo na Roseira. As regras não permitiam o uso de peças já apresentadas na parte competitiva do concurso. Fomos com o intuito de nos divertirmos e de mostrar nossa música, já que não tínhamos preparado nada especial para esse evento. Mas o resultado foi bem legal. Quem ganhou foi o coro feminino da República Tcheca, dirigido por nada mais, nada menos, que o regente titular da Orquestra Sinfônica de Praga.

Enfim, chegou a hora da entrega de prêmios por categorias. Fomos ao palco eu, Pedro e Micheli, aguardando, junto aos demais diretores, o anúncio das premiações. A penúltima categoria foi a de música sacra. Quando vimos que recebemos o ouro, fizemos uma festa incrível na platéia! Gritos choros, saltos, abraços!! Sim, tínhamos atingido nosso primeiro objetivo!
Aí veio a entrega da categoria de coros mistos, música erudita. O nível estava muito alto e não sabíamos ao certo nossa colocação. 

No meio da tarde, na reunião entre juri e regentes, os jurados tinham feito muitas boas observações e muitos elogios à nossa forma de fazer música. Mas, para ganhar a categoria, o caminho era imenso. Primeiro anunciaram o coro da Finlândia, terceiro colocado. Em seguida anunciaram o coro da Suécia, o 
mesmo do " see you in the competition". Ficamos com o coração na mão, pois nesse tipo de competição, quando os coros não atingem o nível exigido, a premiação fica "deserta". Mas logo o coração disparou mais forte quando ouvimos que "a maior pontuação e vencedor do concurso é .... Boca Que Usa!!!!

Foi mágico! Em frações de segundo todas as memórias passaram pela cabeça, num resumo incrível de tudo que tínhamos feito, trabalhado, etc ... Lavamos a alma!

Daí para a frente foi só comemoração! Um coro da distante Latinoamérica, sem nenhuma ajuda financeira, apoiado apenas nos sonhos e desejos de seus cantores e de seus amigos, chegar na distante Itália e retornar com duas medalhas douradas, era a glória! É impressionante que cada medalha parece que é a primeira. 




Já tínhamos ganhado em concursos internacionais 6 medalhas de ouro e duas de prata. 
Mas parecia que era a primeira vez. Juntávamos nas nossas comemorações a alegria de muita gente que em tempos passados abriram caminhos para esse novo acontecimento. Amigos do canto coral que seguem sempre junto a nós nessas longas caminhadas em prol da cultura coral em nosso país. Gente que sonhou conosco e que ganhou junto essas medalhas.

O resto, foi e ainda é, pura comemoração. Mas essa história já está sendo contada. Agora o que importa é construir uma outra história. Já estamos sonhando com novos desafios. Vamos adiante  com esse incrível coral "Bocaleone"!!!

Boca Boca Boca, Leon, Leon, Leoone!!




5 comentários:

  1. Reviver todos estes momentos, de forma tão clara e com tanta riqueza de detalhes, só me traz mais alegrias. Fazer parte desta família chamada Boca Que Usa é uma grande honra e um grande orgulho. Roberto, muito obrigado por reavivar cada momento maravilhoso desta viagem incrível. Que venham as próximas e que esta força pela música coral aqui no Brasil seja cada vez mais intensa e que contagiemos cada vez mais grupos para entrarem nesta vibração positiva. Sigamos em frente com este sonho sensacional. Grande e forte abraço.

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    1. Isso mesmo querido Amilcar, precisamos de sonhos, de sensibilidades e de cultura. Só assim avançamos na história com nossa bela brasilidade preservada. Coro é sempre uma aula de democracia. São cantos e sentimentos quebrando baionetas e canhões.

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  2. Bravíssimo! Que venham muitos títulos!

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  3. Roberto que belíssimo texto reportagem da apresentação na Itália. Foi muito bom saber deste seu trabalho vocal com o Boca Que Usa. Faço parte de um coral super modesto em Lumiar e adoro conhecer essas experiencias exitosas das trupes coralísticas. Parabéns primo. Bravo!

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